OBJECTIVOS
Concepção de um sistema de projecto partindo de um sistema construtivo existente adaptando-o ao contexto nacional português.
O novo sistema – que se designou por SP3M – pretende prover habitação personalizada produzida em série com garantia de qualidade arquitectónica e construtiva, a baixo custo e num curto prazo.
Aspira contrariar a elevada fragmentação existente no sector através da integração de sistemas de projecto e construção.
Pretende também dar resposta a preocupações de sustentabilidade ecológica, económica e social, através da concepção de novas tipologias residenciais e do recurso a matérias primas naturais.
Como motivação acrescida tem o facto de poder ser uma mais valia para o gabinete de projecto possibilitando a oferta de um sistema inovador na produção célere de habitação individual entendida como um produto completo.
METODOLOGIAS
É necessário distinguir três metodologias:
- metodologia investigativa de desenvolvimento do trabalho
- estudo e análise dos precedentes ao problema da habitação em série
- caracterização do contexto nacional
- estudo e análise do sistema construtivo existente
- definição dos princípios para concepção do sistema de projecto
- metodologia de concepção do sistema
- metodologia de aplicação do sistema
Cada metodologia é decorrente da anterior conforme será descrito nesta apresentação.
1. ESTUDO E ANÁLISE DOS PRECEDENTES
PRECEDENTES HISTÓRICOS
Revolução Industrial e o consequente êxodo rural provocam défice habitacional nas cidades.
Período entre guerras: abordagens experimentais
Primeiros modernistas tentam resolver o problema aplicando à arquitectura o conceito de produção em série importado da indústria automóvel. Ex.: casas Dom-ino, Le Corbusier.
Período pós segunda guerra: abordagens exaustivas
Recurso à produção em série na reconstrução da Europa destruída pela guerra. Ex.: programas de reconstrução na Europa de Leste.
A partir dos anos sessenta: ênfase na personalização e diversidade
O excesso de monotonia das abordagens do pós-guerra motivam tentativas de criar sistemas para gerar habitação personalizada e ambientes urbanos com diversidade. Ex.: Teoria de Suportes, J. Habraken; Programa SAAL; Urbanização da Malagueira de Siza Vieira.
PRECEDENTES IMEDIATOS
Em 2000 no LNEC, J. B. Pedro, no seguimento de trabalho de N. Portas, R. Cabrita e A. B. Coelho, desenvolve estudos na área da habitação e definição de qualidade arquitectónica mas dissociados das homologações e pareceres sobre sistemas construtivos (ao abrigo do Art. 17º do RGEU).
Em 1995, J. P. Duarte defende em “Tipo e Módulo” que a personalização de habitação em série pode ser alcançada com a integração de três sistemas: de projecto, de construção e informático. Em 2001 esta teoria é demonstrada com “Uma Gramática discursiva para as Casas da Malagueira de Siza Vieira”.
Em 2004, A. L. Filipe propõe, com o apoio da firma Pavicentro, o ALFF, um sistema de projecto com objectivos semelhantes ao SP3M, mas com um sistema construtivo e campo de aplicação díspares (em betão para habitação multifamiliar com três pisos).
Em 2007, D. Benrós desenvolve, para a Ove Arup, um sistema informático para a integração de sistemas de projecto e construtivo pré-existentes (o ABC do Arq. Gauza e o Kingspan).
2. CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO NACIONAL
OFERTA NO CONTEXTO NACIONAL
São inúmeros os problemas no sector da construção em Portugal decorrentes essencialmente da fragmentação e variedade: de intervenientes, fases, produtos, programas, soluções, etc.
O baixo nível de industrialização, aliado a uma mão de obra pouco qualificada e eventual, provoca uma produtividade diminuta e fraca qualidade das construções.
A construção de habitação em madeira não tem grande tradição em Portugal, com excepção da gaiola pombalina no séc. XVIII e dos períodos de carência de cimento devido às guerras na primeira metade do séc. XX. Assiste-se no entanto a um recente crescimento da oferta destas casas pré-fabricadas motivado pelas várias expectativas enunciadas.
Nos anos 80, com o mercado de arrendamento completamente distorcido, a construção de habitação disparou com a facilidade de crédito e a descida das taxas de juro, mas de acordo com os dados estatísticos e informação socio- económica do INE, a oferta habitacional actual é desadequada tipológica e geograficamente dos agregados familiares e da população.
PROCURA NO CONTEXTO NACIONAL
A informação socio-económica geral do INE permite identificar a diversidade de agregados familiares e as suas necessidades residenciais, complementada com a análise superficial de alguns estudos de mercado e de avaliação imobiliária.
Mas o caracterizador primordial da procura no âmbito desta investigação, levada a cabo entre 2007 e 2009, decorreu dos resultados do questionário elaborado.
Com 20 perguntas, foi distribuído exclusivamente por via electrónica e reunidas, de forma aleatória, as respostas de 132 inquiridos.
O objectivo foi sondar eventuais utentes para aferição da aceitação geral do produto proposto, por um lado, e conhecer as suas expectativas e requisitos individuais, por outro.
RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO
A aceitação do produto proposto foi no geral bastante positiva, essencialmente para habitação secundária.
Mesmo com baixo custo, o financiamento bancário continua a ser determinante na aquisição, sendo que as principais desvantagens apontadas foram a valorização do investimento e a desconfiança relativamente à pré-fabricação.
As principais vantagens foram a rapidez de execução e o preço de aquisição.
A maior preocupação é a resistência ao fogo.
A característica do SP3M mais enaltecida é a “personalização” seguida da “modularidade” e a principal exigência de desempenho é a luz natural/exposição solar seguida do conforto térmico.
EXIGÊNCIAS DE DESEMPENHO NO CONTEXTO NACIONAL
A identificação das Exigências de Desempenho para a habitação em Portugal é baseada no Programa Habitacional de J. B. Pedro.
Classificação em cinco grupos:
- HABITABILIDADE > agradabilidade (meio ambiente e sistema construtivo) – conforto higrotérmico, acústico, visual e táctil, qualidade do ar, etc.
- SEGURANÇA > segurança (sistema construtivo) – segurança estrutural, no uso normal, contra incêndio, contra intrusão, viária, etc.
- USO > adequação, articulação e personalização espacio-funcional (projecto) – capacidade, espaciosidade e funcionalidade (adequação), privacidade, convivialidade, acessibilidade e comunicabilidade (articulação), adaptabilidade e apropriação (personalização)
- ESTÉTICAS > aspecto e coerência (projecto e sistema construtivo) – atractividade, domesticidade e integração
- ECONÓMICAS > economia (sistema construtivo e projecto)
3. CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA CONSTRUTIVO
- processo de fabrico: estrutura e montagem
- transporte e instalação das “caixas”
- elementos e materiais constituintes
- preocupações dos utentes
- características ecológicas e opções sustentáveis
SISTEMA CONSTRUTIVO EXISTENTE
Foi adoptado um sistema construtivo de pré-fabricação ligeira em madeira, utilizado na Holanda e América do Norte, usualmente conhecido por “mobile homes”
- Madeira
- Modular
- Móvel
PROCESSO DE FABRICO
A estrutura em pinho nórdico constitui uma “caixa” assente sobre chassis metálico.
TRANSPORTE E INSTALAÇÃO
Integralmente montadas em fábrica, as caixas são transportadas para o local de implantação por via rodoviária e instaladas com recurso a veículos todo-o- terreno.
CONSTITUIÇÃO DOS PAINÉIS
O interior dos painéis de parede, pavimento e tecto é preenchido com mantas de lã de rocha. O contraplacado marítimo e OSB são isolados com película de alumínio, PVC, polietileno expandido e/ou papel kraft.
REVESTIMENTOS EXTERIORES
As paredes exteriores são revestidas a CanExel e os telhados em Metrotile, materiais actualmente importados integrantes do sistema que lhe conferem características de conforto, resistência e durabilidade.
PREOCUPAÇÕES
As principais preocupações e motivos de desconfiança relativamente a este tipo de sistemas construtivos prendem-se sobretudo com três níveis de desempenho essenciais:
- segurança: mecânica, contra incêndio e face a intempéries (sismos e ventos fortes)
- habitabilidade: essencialmente de conforto térmico e acústico e de
- estanquidade
- durabilidade: condições de conservação e manutenção
Analisadas as características de sistemas construtivos análogos certificados na UE e as condições de homologação do LNEC, verifica-se que: cumprido o correcto dimensionamento da estrutura e as respectivas instruções de montagem dos elementos constituintes, o sistema verifica todas as condições de segurança, habitabilidade e durabilidade estabelecidas.
Sendo que as próprias propriedades mecânicas da madeira e ainda a ausência de fundações são uma mais-valia nos três factores enunciados.
A concepção do projecto das casas e a prática dos utentes são também determinantes.
CARACTERÍSTICAS ECOLÓGICAS E OPÇÕES SUSTENTÁVEIS
São outra preocupação e simultaneamente uma expectativa.
Importa referir que a matéria prima provem de florestas certificadas e que os derivados da madeira resultam de reciclagem sem adição de produtos químicos.
O isolamento é de lã mineral e os vernizes, tintas e revestimentos interiores standard também não possuem componentes sintéticos.
Estão previstos painéis solares na versão base.
E o facto de não terem fundações são aqui outra mais valia.
Estas Mobile Homes permitem ainda a introdução de uma série de equipamentos opcionais – para produção de energia eléctrica, abastecimento de água, drenagem de esgotos ou compostagem de resíduos sólidos – que possibilitam a sua autonomia e um ainda menor impacto ambiental.
O SP3M prevê a aplicação de princípios bioclimáticos ao sistema construtivo através de medidas solares passivas na abordagem projectual sobre cinco elementos chave – orientação solar, área e tipo de superfície envidraçada, de isolamento e sombreamento.
3. SISTEMA PROPOSTO
S3PM
CARACTERÍSTICAS GERAIS
O sistema proposto – designado SP3M – é um Sistema Projectual, Personalizado e Pré-fabricado em Madeira, Modular e Móvel.
O SP3M integra um sistema construtivo e um sistema projectual tirando partido das qualidades do primeiro, mas adequando-o ao contexto nacional português.
O sistema construtivo garante a rapidez, economia e qualidade construtivas com sustentabilidade ambiental.
O sistema projectual permite a individualização e personalização das habitações, com garantia de qualidade arquitectónica.
METODOLOGIA DE CONCEPÇÃO
A concepção do SP3M baseou-se em informação adquirida nas três fases descritas anteriormente – precedentes, contexto nacional e sistema construtivo – que permitiram:
- delimitar o campo de aplicação – habitação, unifamiliar, isolada e de um piso nivelado
- identificar os princípios de concepção do sistema de projecto
- limitações do sistema construtivo: caixas e mobilidade
- exigências de desempenho: funcionais e estéticas
- genéricos legais e pré-estabelecidos pelo sistema (autora)
- personalizados pelos utentes e utilizadores do sistema (projectistas)
- soluções existentes em catálogos, projectos e habitações edificadas
- conceber modelos prévios para extracção de regras
- aplicar o sistema na geração de soluções
PRINCÍPIOS GENÉRICOS
Na concepção do SP3M foram ainda considerados quatro princípios genéricos de projecto:
- Harmonia
- Autenticidade
- Simplicidade
- Economia
Sinteticamente designados por princípios HASE, estão interligados entre si e foram aplicados à concepção e funcionamento do próprio sistema sendo portanto transversais a todos os modelos e soluções habitacionais.
PRINCÍPIOS ESTÉTICOS
O objectivo de qualidade arquitectónica é indissociável da qualidade estética, simbólica e construtiva.
Que não sendo determinante para a sobrevivência, ausente compromete a qualidade geral das habitações e o bem estar dos utentes.
Assim, outro objectivo do SP3M é tornar as habitações esteticamente apelativas no contexto nacional apesar do recurso a sistemas pré-fabricados importados.
O sistema construtivo adoptado é nesta matéria limitativo devido ao forte impacto dos acabamentos.
Princípios estéticos:
- não pretender imitar a construção tradicional
- respeitar a verdade dos materiais
- reflectir a crueza entre função e forma e entre o interior e o exterior
- regras de proporção, alinhamento, simetria, ritmo e cor
Que interferem na volumetria e composição das fachadas, ao nível do desenho da cobertura, disposição dos vãos, opções de acabamento, etc.
METODOLOGIA DE APLICAÇÃO DO SISTEMA
A habitação é gerada pelo sistema em quatro estádios sucessivos em que são definidos:
- programa base em colaboração com os utentes
- forma envolvente da habitação
- onteúdo espacio-funcional
- detalhes e conclusão do projecto para remeter à fábrica
ESTÁDIO 1 – PROGRAMA BASE
O programa base é estabelecido em três etapas:
Na 1ª etapa são recolhidos os dados dos utentes por intermédio de entrevistas, preenchimento de formulários e reunião de demais elementos
Que vão permitir, na 2ª etapa, caracterizar a habitação
- tipologicamente: espaços, compartimentos e exigências de adequação
- topologicamente: critérios de articulação espacio-funcional
- morfologicamente: forma preliminar da habitação
E elaborar, na 3ª etapa, o quadro espacio-funcional e mais três suportes de geração
- perfil de utentes (PU)
- esquema topológico (ET)
- esquema morfológico (EM)
ETAPA 1.3: QUADRO ESPACIO-FUNCIONAL
Suportes do quadro espacio-funcional inicial: perfil de utentes, esquema topológico e esquema morfológico.

ETAPA 1.3 – QUADRO ESPACIO-FUNCIONAL
O quadro espacio-funcional é baseado em três quadros que sintetizam as exigências de adequação:
1º quadro de funções e compartimentos (funcionalidade)
- parte das 17 funções de N. Portas (1969) e dos compartimentos
- previstos em Pedro, RGEU e MCAT que o SP3M reduz para 8 tipos.
- identifica as ligações mais frequentes segundo três níveis: dominante, associado ou opcional;
2º quadro de áreas e dimensões mínimas (espaciosidade)
- resume as tipologias e as exigências mínimas legais de espaciosidade, área, largura e comprimento, do RGEU e MCAT para os tipos de compartimento do SP3M;
3º quadro de mobiliário e equipamento (capacidade)
- indica as dimensões físicas e de uso mínimas, segundo Pedro, para o mobiliário e equipamento mais frequente por tipo de compartimento;
- a capacidade dos espaços permite ainda resumir os três factores de exigência de uso enumerados.
FUNCIONALIDADE

TIPOS DE COMPARTIMENTO
HABITÁVEIS
- Quarto principal – Q (categorias G ou M)
- Quarto secundário – S (categorias M ou P)
- Sala – S (categorias: área, posição e variedade de funções)
- Cozinha ou “kitchenette” – K (segundo os MCAT) (género húmido)
NÃO HABITÁVEIS
- Instalação sanitária (i.s.) – B, subtipos: B, D, L ou R (género húmido)
- Entrada e/ou circulação – E, subtipos: E, C ou H (quando isolados)
- Arrumação – X (pouco expressivo no SP3M enquanto compartimento)
- Alpendre – A (espaços exteriores cobertos incluídos no perímetro das caixas), subtipo: Ae
As cores e letras vão ser necessárias no 3º estádio de geração.
A redução para 8 tipos deve-se à exclusão de funções, flexibilização dos espaços e facilitação do sistema.
ESPACIOSIDADE

CAPACIDADE
GERAÇÃO DA HABITAÇÃO
Na geração da habitação os princípios espacio-funcionais estabelecidos no programa base vão ser aplicados pela seguinte ordem:
- princípios morfológicos: dimensionamento e combinação das caixas
- princípios topológicos: posicionamento das zonas funcionais
- princípios tipológicos: definição dos compartimentos
A geração propriamente dita inicia-se assim a partir do 2º estádio.
ESTÁDIO 2 – FORMA ENVOLVENTE
A forma envolvente da habitação é pré-definida em duas etapas.
Na 1ª etapa são pré-dimensionadas as caixas
- as dimensões máximas dependem da mobilidade – estabilidade estrutural das caixas e condições de transporte (RAET – Regulamento de Autorizações Especiais de Trânsito)
- as dimensões mínimas dependem das exigências de espaciosidade
Na 2ª etapa é estabelecida a composição morfológica resultante da combinação das caixas (até quatro caixas)
- critérios de articulação: esquemas topológico e morfológico
- preferências estilísticas e estéticas indicadas, incluindo definição da cobertura
- localização e orçamento iniciais
ETAPA 2.1 – DIMENSIONAMENTO DAS CAIXAS
As caixas são sempre rectangulares com
- 2,50 a 4,00 metros de largura total
- 5 a 12 metros de comprimento total
- 3,10 a 3,70 metros de altura total
As dimensões totais:
- incluem a platibanda do telhado (em planta)
- não incluem a altura do chassis
- o telhado pode ter de uma a quatro águas com 10º de inclinação
MOBILIDADE E DIMENSÕES MÁXIMAS DAS CAIXAS

ESPACIOSIDADE E DIMENSÕES MÍNIMAS HORIZONTAIS
As dimensões mínimas em planta dependem das condições de espaciosidade e da caixa vir ou não a ser justaposta com outra.

O sistema não permite que uma caixa isolada tenha menos de 4 m de largura total, equivalente a 3,40 m de largura livre.
DIMENSÕES VERTICAIS DAS CAIXAS
As caixas em altura dependem do pé-direito e do número de águas do telhado.
PRÉ-DIMENSIONAMENTO DAS CAIXAS
O pré-dimensionamento da área livre das caixas é baseado no quadro espacio-funcional do estádio anterior, incluindo uma percentagem para circulações e outra para paredes divisórias.
Exemplo: pré-dimensionamento caixa isolada tipo KBS (T0, RGEU) Programa (fixo e opcional):

Perfil de utentes: 1 agregado

T0 de acordo com o RGEU Áreas mínimas:
Ab da habitação – 35 m2
∑ Au compartimentos – 25,5 m2 Caixa com 4 por 8 metros

Habitação mínima do SP3M =
apartamentos em estúdio dos MCAT
Au mínima – 15 m2 (2 pax)
Ab SP3M – 20 m2
Caixa com 4 por 5 metros

CAIXAS TIPO KBS

Exemplo: pré-dimensionamento caixas isoladas:

tipo KBSQ (T1, RGEU)

tipo KBSQM (T2, RGEU+MCAT)
ETAPA 2.2 – COMPOSIÇÃO MORFOLÓGICA
As habitações são constituídas por uma a quatro caixas e têm no máximo 192 m2 de área bruta e 173 m2 de área útil.
As caixas são justapostas perpendicularmente e nunca mais do que duas na mesma direcção e a superfície de contacto não pode ser inferior a 1,70 m2 (equivalente aos 1,10 m de largura útil de passagem exigíveis).
As opções mais complexas são designadas por caracteres (letras ou números).
Para além dos princípios estabelecidos pelo programa base, os princípios HASE e estéticos são igualmente determinantes na definição da volumetria nesta etapa.
MAPA COMPOSIÇÕES MORFOLÓGICAS
DUAS CAIXAS



TRÊS CAIXAS


DEFINIÇÃO DA COBERTURA
São possíveis quatro situações para os telhados:
- com uma água, inclinada no sentido da largura
- com duas a quatros águas, com a cumeeira centrada no sentido longitudinal
- com três águas, apenas possível em caixas justapostas
COMPOSIÇÃO MORFOLÓGICA – TELHADOS
Na combinação das caixas é necessária especial atenção à localização das juntas entre caixas e expressão das platibandas (ou beirados).
ESTÁDIO 3 – CONTEÚDO ESPACIO-FUNCIONAL
Estabelecida a forma envolvente da habitação, o conteúdo espacio- funcional é inserido em quatro etapas que consistem em:
- zonamento
- classificação tipológica das caixas
- compartimentação
- pormenorização
Cada etapa define um suporte gráfico de projecto sucessivamente mais detalhado.
ETAPA 3.1 – ZONAMENTO
O zonamento é definido sobre os suportes morfológico e cromático (SM e SC) de acordo com os critérios de articulação e tipos de compartimento dominantes previstos no programa base.
O SP3M estabelece as seguintes zonas funcionais:
Zonas elementares
- zona SOCIAL, sala (S)
- zona PRIVATIVA, quarto Q e i.s. B (QB)
Zona intermédia ou comum
- zona de TRANSIÇÃO, entrada (E)
Subzonas opcionais
- subzona de TRABALHO/ESTUDO/RECREIO, quarto M (M)
- subzona de SERVIÇO, cozinha, lavandaria, arrumos, … (K, R ou X)
ETAPA 3.2 – CLASSIFICAÇÃO DAS CAIXAS
As caixas são classificadas em famílias, tipos e géneros.
- família: zonamento da habitação
- tipo: conteúdo funcional das caixas
- género: padrões topológicos
A tipologia das caixas é identificada pela sigla resultante dos tipos de compartimento com a seguinte ordenação (de acordo com a imprescindibilidade e condicionamento da habitação): K, B, S, Q e M.
Os espaços: – E, – A e – X originam subfamílias (indicadas em sufixo).
No suporte cromático (SC) os compartimentos são substituídos por manchas funcionais proporcionais.
As famílias de caixas mais frequentes são:
CAIXAS FAMÍLIA K (única família de caixas que se pode constituir como unidade habitacional autónoma com apenas uma por habitação.)


O género deste tipo de caixas decorre da relação entre as manchas “húmidas”(K e B).
CAIXAS FAMÍLIA B

Os géneros decorrem da relação entre B e S ou S e Q.
S, Q e M são
mutáveis entre si.
Os subgéneros decorrem de relações menos frequentes ou mistas.
CAIXAS FAMÍLIA S

As caixas B ou S são sempre combinadas com uma caixa K.
Suportes morfológico e cromático do modelo SUDOESTE
versão base – T3 em “J”

Exemplos de variantes: morfológica, tipológica e topológica:
ETAPA 3.3 – COMPARTIMENTAÇÃO
A etapa da compartimentação evolui em quatro passos essenciais representados no suporte programático (SP).
- definição do perímetro livre
- linha com 30 cm de afastamento para o interior do perímetro total
- estabelecimento da área livre
- introdução do esquema de circulação
- localizar a entrada principal da habitação
- estabelecer percursos de circulação com as dimensões exigíveis
- aplicáveis
- delimitação dos compartimentos habitáveis e instalações sanitárias
- subtrair circulações e paredes divisórias (9,5 cm de afastamento)
- reajustar e dividir manchas funcionais de acordo com as exigências de adequação espacio-funcional (em intervalos de 0,5 cm)
- verificar graficamente a espaciosidade com as exigências de mobiliário e equipamento
- os compartimentos, com excepção da sala, não poderão extravasar a caixa
- nas caixas justapostas, a localização das paredes limítrofes decorre das condicionantes mecânicas e infra-estruturais do sistema construtivo
- introdução de alpendres e espaços de arrumação
ETAPA 3.4 – PORMENORIZAÇÃO
Esta etapa consiste na materialização das etapas precedentes através da introdução de paredes, vão interiores (com 75 ou 65 cm de largura útil), mobiliário fixo, equipamento, chaminés, etc.
O sistema vai sendo mais aberto segundo a ordem de inserção enumerada acima.
Desta etapa decorre o suporte detalhado (SD) do projecto base da habitação.
Exemplo: modelo SUDOESTE


ESTÁDIO 4 – PROJECTO BASE DE EXECUÇÃO
No estádio 4 é consolidada a compatibilização do conteúdo espacio-funcional com a forma envolvente.
São inseridos os vãos exteriores e definidos os acabamentos. Numa abordagem experimental de aplicação do SP3M:
- o mapa de vãos é limitado ao catálogo disponível no fornecedor do M3
- e os acabamentos exteriores à variedade cromática dos fabricantes
Os princípios genéricos HASE e estéticos voltam a ser preponderantes nesta fase.
Na última etapa são detalhados os suportes gráficos e elaboradas as peças escritas necessárias para a conveniente definição e dimensionamento da habitação, incluindo memória descritiva, programa geral de trabalhos, mapa de quantidades e orçamento descriminado.
ESTÁDIO 4 – PLANTA DE COBERTURA E ALÇADOS
Versão base:
- caixas com telhados de três e
quatro águas
Variante morfológica:
- caixas com telhados de uma
água - translação da implantação

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As características de mobilidade, adaptabilidade, funcionalidade, aplicação de economias de escala mantendo princípios de identidade, etc., permitem ao sistema proposto acompanhar as rápidas e frequentes mutações da sociedade actual na produção de habitação.
Por outro lado este procura responder à ânsia crescente de simplicidade, regresso e contacto com a natureza, assim como de sustentabilidade ambiental e eficiência energética.
A sistematização das exigências e integração de um sistema construtivo com o sistema de projecto personalizado permitem à oferta corresponder às expectativas da procura e de regulação do estado.
CONCLUSÃO
O sistema proposto reflecte os dias de hoje, nomeadamente, a necessidade de celeridade, mobilidade, funcionalidade e de economias de escala, por um lado, e a valorização dos aspectos ambientais, do contacto com a natureza e das preocupações de ordem ecológica, eficiência energética e qualidade de vida, por outro.
As principais dificuldades sentidas prenderam-se com as restrições inerentes ao sistema construtivo adoptado que condicionou o campo de aplicação do sistema de projecto desenvolvido, embora tais restrições tivessem paradoxalmente permitido restringir o universo de soluções e, consequentemente, criar o sistema de projecto. Contudo, este é suficientemente simples e flexível para que possa ser adaptado a outro sistema construtivo de pré-fabricação leve e a um campo de aplicação morfológico e programático mais vasto.
DESENVOLVIMENTO FUTURO
Pretende-se futuramente criar uma gramática discursiva baseada na elaboração de mais soluções e consequente ampliação do sistema de regras visando a automatização pela integração de um sistema informático.
Este permitirá optimizar a execução dos modelos, na interacção com os utentes e articulação com a fábrica, possibilitando posteriormente o alargamento do campo de aplicação.
A produção de habitações permitirá uma avaliação pós-ocupacional consistente, a homologação e reconhecimento do sistema projectual e dispensando processos disfuncionais e morosos de licenciamento.