OBJECTIVOS

Concepção de um sistema de projecto partindo de um sistema construtivo existente adaptando-o ao contexto nacional português.

O novo sistema – que se designou por SP3M – pretende prover habitação personalizada produzida em série com garantia de qualidade arquitectónica e construtiva, a baixo custo e num curto prazo.

Aspira contrariar a elevada fragmentação existente no sector através da integração de sistemas de projecto e construção.

Pretende também dar resposta a preocupações de sustentabilidade ecológica, económica e social, através da concepção de novas tipologias residenciais e do recurso a matérias primas naturais.

Como motivação acrescida tem o facto de poder ser uma mais valia para o gabinete de projecto possibilitando a oferta de um sistema inovador na produção célere de habitação individual entendida como um produto completo.

METODOLOGIAS

É necessário distinguir três metodologias:

  • metodologia investigativa de desenvolvimento do trabalho
    • estudo e análise dos precedentes ao problema da habitação em série
    • caracterização do contexto nacional
    • estudo e análise do sistema construtivo existente
    • definição dos princípios para concepção do sistema de projecto
  • metodologia de concepção do sistema
  • metodologia de aplicação do sistema

Cada metodologia é decorrente da anterior conforme será descrito nesta apresentação.

1. ESTUDO E ANÁLISE DOS PRECEDENTES

PRECEDENTES HISTÓRICOS

Revolução Industrial e o consequente êxodo rural provocam défice habitacional nas cidades.

Período entre guerras: abordagens experimentais
Primeiros modernistas tentam resolver o problema aplicando à arquitectura o conceito de produção em série importado da indústria automóvel. Ex.: casas Dom-ino, Le Corbusier.

Período pós segunda guerra: abordagens exaustivas
Recurso à produção em série na reconstrução da Europa destruída pela guerra. Ex.: programas de reconstrução na Europa de Leste.

A partir dos anos sessenta: ênfase na personalização e diversidade
O excesso de monotonia das abordagens do pós-guerra motivam tentativas de criar sistemas para gerar habitação personalizada e ambientes urbanos com diversidade. Ex.: Teoria de Suportes, J. Habraken; Programa SAAL; Urbanização da Malagueira de Siza Vieira.

PRECEDENTES IMEDIATOS

Em 2000 no LNEC, J. B. Pedro, no seguimento de trabalho de N. Portas, R. Cabrita e A. B. Coelho, desenvolve estudos na área da habitação e definição de qualidade arquitectónica mas dissociados das homologações e pareceres sobre sistemas construtivos (ao abrigo do Art. 17º do RGEU).

Em 1995, J. P. Duarte defende em “Tipo e Módulo” que a personalização de habitação em série pode ser alcançada com a integração de três sistemas: de projecto, de construção e informático. Em 2001 esta teoria é demonstrada com “Uma Gramática discursiva para as Casas da Malagueira de Siza Vieira”.

Em 2004, A. L. Filipe propõe, com o apoio da firma Pavicentro, o ALFF, um sistema de projecto com objectivos semelhantes ao SP3M, mas com um sistema construtivo e campo de aplicação díspares (em betão para habitação multifamiliar com três pisos).

Em 2007, D. Benrós desenvolve, para a Ove Arup, um sistema informático para a integração de sistemas de projecto e construtivo pré-existentes (o ABC do Arq. Gauza e o Kingspan).

2. CARACTERIZAÇÃO DO CONTEXTO NACIONAL

OFERTA NO CONTEXTO NACIONAL

São inúmeros os problemas no sector da construção em Portugal decorrentes essencialmente da fragmentação e variedade: de intervenientes, fases, produtos, programas, soluções, etc.

O baixo nível de industrialização, aliado a uma mão de obra pouco qualificada e eventual, provoca uma produtividade diminuta e fraca qualidade das construções.

A construção de habitação em madeira não tem grande tradição em Portugal, com excepção da gaiola pombalina no séc. XVIII e dos períodos de carência de cimento devido às guerras na primeira metade do séc. XX. Assiste-se no entanto a um recente crescimento da oferta destas casas pré-fabricadas motivado pelas várias expectativas enunciadas.

Nos anos 80, com o mercado de arrendamento completamente distorcido, a construção de habitação disparou com a facilidade de crédito e a descida das taxas de juro, mas de acordo com os dados estatísticos e informação socio- económica do INE, a oferta habitacional actual é desadequada tipológica e geograficamente dos agregados familiares e da população.

PROCURA NO CONTEXTO NACIONAL

A informação socio-económica geral do INE permite identificar a diversidade de agregados familiares e as suas necessidades residenciais, complementada com a análise superficial de alguns estudos de mercado e de avaliação imobiliária.

Mas o caracterizador primordial da procura no âmbito desta investigação, levada a cabo entre 2007 e 2009, decorreu dos resultados do questionário elaborado.

Com 20 perguntas, foi distribuído exclusivamente por via electrónica e reunidas, de forma aleatória, as respostas de 132 inquiridos.

O objectivo foi sondar eventuais utentes para aferição da aceitação geral do produto proposto, por um lado, e conhecer as suas expectativas e requisitos individuais, por outro.

RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO

A aceitação do produto proposto foi no geral bastante positiva, essencialmente para habitação secundária.

Mesmo com baixo custo, o financiamento bancário continua a ser determinante na aquisição, sendo que as principais desvantagens apontadas foram a valorização do investimento e a desconfiança relativamente à pré-fabricação.

As principais vantagens foram a rapidez de execução e o preço de aquisição.

A maior preocupação é a resistência ao fogo.

A característica do SP3M mais enaltecida é a “personalização” seguida da “modularidade” e a principal exigência de desempenho é a luz natural/exposição solar seguida do conforto térmico.

EXIGÊNCIAS DE DESEMPENHO NO CONTEXTO NACIONAL

A identificação das Exigências de Desempenho para a habitação em Portugal é baseada no Programa Habitacional de J. B. Pedro.

Classificação em cinco grupos:

  • HABITABILIDADE > agradabilidade (meio ambiente e sistema construtivo) – conforto higrotérmico, acústico, visual e táctil, qualidade do ar, etc.
  • SEGURANÇA > segurança (sistema construtivo) – segurança estrutural, no uso normal, contra incêndio, contra intrusão, viária, etc.
  • USO > adequação, articulação e personalização espacio-funcional (projecto) – capacidade, espaciosidade e funcionalidade (adequação), privacidade, convivialidade, acessibilidade e comunicabilidade (articulação), adaptabilidade e apropriação (personalização)
  • ESTÉTICAS > aspecto e coerência (projecto e sistema construtivo) – atractividade, domesticidade e integração
  • ECONÓMICAS > economia (sistema construtivo e projecto)

3. CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA CONSTRUTIVO

  • processo de fabrico: estrutura e montagem
  • transporte e instalação das “caixas”
  • elementos e materiais constituintes
  • preocupações dos utentes
  • características ecológicas e opções sustentáveis

SISTEMA CONSTRUTIVO EXISTENTE

Foi adoptado um sistema construtivo de pré-fabricação ligeira em madeira, utilizado na Holanda e América do Norte, usualmente conhecido por “mobile homes

  • Madeira
  • Modular
  • Móvel

PROCESSO DE FABRICO

A estrutura em pinho nórdico constitui uma “caixa” assente sobre chassis metálico.

TRANSPORTE E INSTALAÇÃO

Integralmente montadas em fábrica, as caixas são transportadas para o local de implantação por via rodoviária e instaladas com recurso a veículos todo-o- terreno.

CONSTITUIÇÃO DOS PAINÉIS

O interior dos painéis de parede, pavimento e tecto é preenchido com mantas de lã de rocha. O contraplacado marítimo e OSB são isolados com película de alumínio, PVC, polietileno expandido e/ou papel kraft.

REVESTIMENTOS EXTERIORES

As paredes exteriores são revestidas a CanExel e os telhados em Metrotile, materiais actualmente importados integrantes do sistema que lhe conferem características de conforto, resistência e durabilidade.

PREOCUPAÇÕES

As principais preocupações e motivos de desconfiança relativamente a este tipo de sistemas construtivos prendem-se sobretudo com três níveis de desempenho essenciais:

  • segurança: mecânica, contra incêndio e face a intempéries (sismos e ventos fortes)
  • habitabilidade: essencialmente de conforto térmico e acústico e de
  • estanquidade
  • durabilidade: condições de conservação e manutenção

Analisadas as características de sistemas construtivos análogos certificados na UE e as condições de homologação do LNEC, verifica-se que: cumprido o correcto dimensionamento da estrutura e as respectivas instruções de montagem dos elementos constituintes, o sistema verifica todas as condições de segurança, habitabilidade e durabilidade estabelecidas.

Sendo que as próprias propriedades mecânicas da madeira e ainda a ausência de fundações são uma mais-valia nos três factores enunciados.

A concepção do projecto das casas e a prática dos utentes são também determinantes.

CARACTERÍSTICAS ECOLÓGICAS E OPÇÕES SUSTENTÁVEIS

São outra preocupação e simultaneamente uma expectativa.

Importa referir que a matéria prima provem de florestas certificadas e que os derivados da madeira resultam de reciclagem sem adição de produtos químicos.
O isolamento é de lã mineral e os vernizes, tintas e revestimentos interiores standard também não possuem componentes sintéticos.
Estão previstos painéis solares na versão base.
E o facto de não terem fundações são aqui outra mais valia.

Estas Mobile Homes permitem ainda a introdução de uma série de equipamentos opcionais – para produção de energia eléctrica, abastecimento de água, drenagem de esgotos ou compostagem de resíduos sólidos – que possibilitam a sua autonomia e um ainda menor impacto ambiental.

O SP3M prevê a aplicação de princípios bioclimáticos ao sistema construtivo através de medidas solares passivas na abordagem projectual sobre cinco elementos chave – orientação solar, área e tipo de superfície envidraçada, de isolamento e sombreamento.

3. SISTEMA PROPOSTO

S3PM

CARACTERÍSTICAS GERAIS

O sistema proposto – designado SP3M – é um Sistema Projectual, Personalizado e Pré-fabricado em Madeira, Modular e Móvel.

O SP3M integra um sistema construtivo e um sistema projectual tirando partido das qualidades do primeiro, mas adequando-o ao contexto nacional português.

O sistema construtivo garante a rapidez, economia e qualidade construtivas com sustentabilidade ambiental.

O sistema projectual permite a individualização e personalização das habitações, com garantia de qualidade arquitectónica.

METODOLOGIA DE CONCEPÇÃO

A concepção do SP3M baseou-se em informação adquirida nas três fases descritas anteriormente – precedentes, contexto nacional e sistema construtivo – que permitiram:

  1. delimitar o campo de aplicação – habitação, unifamiliar, isolada e de um piso nivelado
  2. identificar os princípios de concepção do sistema de projecto
    1. limitações do sistema construtivo: caixas e mobilidade
    2. exigências de desempenho: funcionais e estéticas
    3. genéricos legais e pré-estabelecidos pelo sistema (autora)
    4. personalizados pelos utentes e utilizadores do sistema (projectistas)
    5. soluções existentes em catálogos, projectos e habitações edificadas
  3. conceber modelos prévios para extracção de regras
  4. aplicar o sistema na geração de soluções

PRINCÍPIOS GENÉRICOS

Na concepção do SP3M foram ainda considerados quatro princípios genéricos de projecto:

  • Harmonia
  • Autenticidade
  • Simplicidade
  • Economia

Sinteticamente designados por princípios HASE, estão interligados entre si e foram aplicados à concepção e funcionamento do próprio sistema sendo portanto transversais a todos os modelos e soluções habitacionais.

PRINCÍPIOS ESTÉTICOS

O objectivo de qualidade arquitectónica é indissociável da qualidade estética, simbólica e construtiva.

Que não sendo determinante para a sobrevivência, ausente compromete a qualidade geral das habitações e o bem estar dos utentes.

Assim, outro objectivo do SP3M é tornar as habitações esteticamente apelativas no contexto nacional apesar do recurso a sistemas pré-fabricados importados.

O sistema construtivo adoptado é nesta matéria limitativo devido ao forte impacto dos acabamentos.

Princípios estéticos:

  • não pretender imitar a construção tradicional
  • respeitar a verdade dos materiais
  • reflectir a crueza entre função e forma e entre o interior e o exterior
  • regras de proporção, alinhamento, simetria, ritmo e cor

Que interferem na volumetria e composição das fachadas, ao nível do desenho da cobertura, disposição dos vãos, opções de acabamento, etc.

METODOLOGIA DE APLICAÇÃO DO SISTEMA

A habitação é gerada pelo sistema em quatro estádios sucessivos em que são definidos:

  1. programa base em colaboração com os utentes
  2. forma envolvente da habitação
  3. onteúdo espacio-funcional
  4. detalhes e conclusão do projecto para remeter à fábrica

ESTÁDIO 1 – PROGRAMA BASE

O programa base é estabelecido em três etapas:

Na 1ª etapa são recolhidos os dados dos utentes por intermédio de entrevistas, preenchimento de formulários e reunião de demais elementos

Que vão permitir, na 2ª etapa, caracterizar a habitação

  • tipologicamente: espaços, compartimentos e exigências de adequação
  • topologicamente: critérios de articulação espacio-funcional
  • morfologicamente: forma preliminar da habitação

E elaborar, na 3ª etapa, o quadro espacio-funcional e mais três suportes de geração

  • perfil de utentes (PU)
  • esquema topológico (ET)
  • esquema morfológico (EM)

ETAPA 1.3: QUADRO ESPACIO-FUNCIONAL

Suportes do quadro espacio-funcional inicial: perfil de utentes, esquema topológico e esquema morfológico.

Exemplo: modelo SUDOESTE (modelo analítico)

ETAPA 1.3 – QUADRO ESPACIO-FUNCIONAL

O quadro espacio-funcional é baseado em três quadros que sintetizam as exigências de adequação:

1º quadro de funções e compartimentos (funcionalidade)

  • parte das 17 funções de N. Portas (1969) e dos compartimentos
  • previstos em Pedro, RGEU e MCAT que o SP3M reduz para 8 tipos.
  • identifica as ligações mais frequentes segundo três níveis: dominante, associado ou opcional;

2º quadro de áreas e dimensões mínimas (espaciosidade)

  • resume as tipologias e as exigências mínimas legais de espaciosidade, área, largura e comprimento, do RGEU e MCAT para os tipos de compartimento do SP3M;

3º quadro de mobiliário e equipamento (capacidade)

  • indica as dimensões físicas e de uso mínimas, segundo Pedro, para o mobiliário e equipamento mais frequente por tipo de compartimento;
  • a capacidade dos espaços permite ainda resumir os três factores de exigência de uso enumerados.

FUNCIONALIDADE

TIPOS DE COMPARTIMENTO

HABITÁVEIS

  • Quarto principal – Q (categorias G ou M)
  • Quarto secundário – S (categorias M ou P)
  • Sala – S (categorias: área, posição e variedade de funções)
  • Cozinha ou “kitchenette” – K (segundo os MCAT) (género húmido)

NÃO HABITÁVEIS

  • Instalação sanitária (i.s.) – B, subtipos: B, D, L ou R (género húmido)
  • Entrada e/ou circulação – E, subtipos: E, C ou H (quando isolados)
  • Arrumação – X (pouco expressivo no SP3M enquanto compartimento)
  • Alpendre – A (espaços exteriores cobertos incluídos no perímetro das caixas), subtipo: Ae

As cores e letras vão ser necessárias no 3º estádio de geração.

A redução para 8 tipos deve-se à exclusão de funções, flexibilização dos espaços e facilitação do sistema.

ESPACIOSIDADE

CAPACIDADE

GERAÇÃO DA HABITAÇÃO

Na geração da habitação os princípios espacio-funcionais estabelecidos no programa base vão ser aplicados pela seguinte ordem:

  1. princípios morfológicos: dimensionamento e combinação das caixas
  2. princípios topológicos: posicionamento das zonas funcionais
  3. princípios tipológicos: definição dos compartimentos

A geração propriamente dita inicia-se assim a partir do 2º estádio.

ESTÁDIO 2 – FORMA ENVOLVENTE

A forma envolvente da habitação é pré-definida em duas etapas.

Na 1ª etapa são pré-dimensionadas as caixas

  • as dimensões máximas dependem da mobilidade – estabilidade estrutural das caixas e condições de transporte (RAET – Regulamento de Autorizações Especiais de Trânsito)
  • as dimensões mínimas dependem das exigências de espaciosidade

Na 2ª etapa é estabelecida a composição morfológica resultante da combinação das caixas (até quatro caixas)

  • critérios de articulação: esquemas topológico e morfológico
  • preferências estilísticas e estéticas indicadas, incluindo definição da cobertura
  • localização e orçamento iniciais

ETAPA 2.1 – DIMENSIONAMENTO DAS CAIXAS

As caixas são sempre rectangulares com

  • 2,50 a 4,00 metros de largura total
  • 5 a 12 metros de comprimento total
  • 3,10 a 3,70 metros de altura total

As dimensões totais:

  • incluem a platibanda do telhado (em planta)
  • não incluem a altura do chassis
  • o telhado pode ter de uma a quatro águas com 10º de inclinação

MOBILIDADE E DIMENSÕES MÁXIMAS DAS CAIXAS

ESPACIOSIDADE E DIMENSÕES MÍNIMAS HORIZONTAIS

As dimensões mínimas em planta dependem das condições de espaciosidade e da caixa vir ou não a ser justaposta com outra.

O sistema não permite que uma caixa isolada tenha menos de 4 m de largura total, equivalente a 3,40 m de largura livre.

DIMENSÕES VERTICAIS DAS CAIXAS

As caixas em altura dependem do pé-direito e do número de águas do telhado.

PRÉ-DIMENSIONAMENTO DAS CAIXAS

O pré-dimensionamento da área livre das caixas é baseado no quadro espacio-funcional do estádio anterior, incluindo uma percentagem para circulações e outra para paredes divisórias.

Exemplo: pré-dimensionamento caixa isolada tipo KBS (T0, RGEU) Programa (fixo e opcional):

Perfil de utentes: 1 agregado

T0 de acordo com o RGEU Áreas mínimas:
Ab da habitação – 35 m2
∑ Au compartimentos – 25,5 m2 Caixa com 4 por 8 metros

Habitação mínima do SP3M =
apartamentos em estúdio dos MCAT

Au mínima – 15 m2 (2 pax)
Ab SP3M – 20 m2
Caixa com 4 por 5 metros

CAIXAS TIPO KBS

Exemplo: pré-dimensionamento caixas isoladas:

Perfil de utentes: 1 agregado

tipo KBSQ (T1, RGEU)


tipo KBSQM (T2, RGEU+MCAT)

ETAPA 2.2 – COMPOSIÇÃO MORFOLÓGICA

As habitações são constituídas por uma a quatro caixas e têm no máximo 192 m2 de área bruta e 173 m2 de área útil.

As caixas são justapostas perpendicularmente e nunca mais do que duas na mesma direcção e a superfície de contacto não pode ser inferior a 1,70 m2 (equivalente aos 1,10 m de largura útil de passagem exigíveis).

As opções mais complexas são designadas por caracteres (letras ou números).

Para além dos princípios estabelecidos pelo programa base, os princípios HASE e estéticos são igualmente determinantes na definição da volumetria nesta etapa.

MAPA COMPOSIÇÕES MORFOLÓGICAS

DUAS CAIXAS

justapostas na largura (alinhadas ou desalinhadas)
justapostas no comprimento (alinhadas ou desalinhadas)
em L ou T

TRÊS CAIXAS

em T, O, J, U, etc.
em U, J, L, F, etc.

DEFINIÇÃO DA COBERTURA

São possíveis quatro situações para os telhados:

  • com uma água, inclinada no sentido da largura
  • com duas a quatros águas, com a cumeeira centrada no sentido longitudinal
  • com três águas, apenas possível em caixas justapostas

COMPOSIÇÃO MORFOLÓGICA – TELHADOS

Na combinação das caixas é necessária especial atenção à localização das juntas entre caixas e expressão das platibandas (ou beirados).

ESTÁDIO 3 – CONTEÚDO ESPACIO-FUNCIONAL

Estabelecida a forma envolvente da habitação, o conteúdo espacio- funcional é inserido em quatro etapas que consistem em:

  1. zonamento
  2. classificação tipológica das caixas
  3. compartimentação
  4. pormenorização

Cada etapa define um suporte gráfico de projecto sucessivamente mais detalhado.

ETAPA 3.1 – ZONAMENTO

O zonamento é definido sobre os suportes morfológico e cromático (SM e SC) de acordo com os critérios de articulação e tipos de compartimento dominantes previstos no programa base.

O SP3M estabelece as seguintes zonas funcionais:

Zonas elementares

  • zona SOCIAL, sala (S)
  • zona PRIVATIVA, quarto Q e i.s. B (QB)

Zona intermédia ou comum

  • zona de TRANSIÇÃO, entrada (E)

Subzonas opcionais

  • subzona de TRABALHO/ESTUDO/RECREIO, quarto M (M)
  • subzona de SERVIÇO, cozinha, lavandaria, arrumos, … (K, R ou X)

ETAPA 3.2 – CLASSIFICAÇÃO DAS CAIXAS

As caixas são classificadas em famílias, tipos e géneros.

  • família: zonamento da habitação
  • tipo: conteúdo funcional das caixas
  • género: padrões topológicos

A tipologia das caixas é identificada pela sigla resultante dos tipos de compartimento com a seguinte ordenação (de acordo com a imprescindibilidade e condicionamento da habitação): K, B, S, Q e M.

Os espaços: – E, – A e – X originam subfamílias (indicadas em sufixo).

No suporte cromático (SC) os compartimentos são substituídos por manchas funcionais proporcionais.

As famílias de caixas mais frequentes são:

CAIXAS FAMÍLIA K (única família de caixas que se pode constituir como unidade habitacional autónoma com apenas uma por habitação.)

KBS – caixas do tipo autónomo ou social (subfamílias –E, -A e –X)
KBSQ – caixas do tipo autónomo ou comum (subtipos: KB2SQ, KBSQM)

O género deste tipo de caixas decorre da relação entre as manchas “húmidas”(K e B).

CAIXAS FAMÍLIA B

BS – caixas do tipo social; BQ – tipo privativo; BSQ – tipo comum

Os géneros decorrem da relação entre B e S ou S e Q.

S, Q e M são
mutáveis entre si.

Os subgéneros decorrem de relações menos frequentes ou mistas.

CAIXAS FAMÍLIA S

S, SQ, SQ2, … – caixas tipo não infra-estruturado

As caixas B ou S são sempre combinadas com uma caixa K.

Suportes morfológico e cromático do modelo SUDOESTE
versão base – T3 em “J”

Exemplos de variantes: morfológica, tipológica e topológica:

ETAPA 3.3 – COMPARTIMENTAÇÃO

A etapa da compartimentação evolui em quatro passos essenciais representados no suporte programático (SP).

  1. definição do perímetro livre
    • linha com 30 cm de afastamento para o interior do perímetro total
    • estabelecimento da área livre
  2. introdução do esquema de circulação
    • localizar a entrada principal da habitação
    • estabelecer percursos de circulação com as dimensões exigíveis
    • aplicáveis
  3. delimitação dos compartimentos habitáveis e instalações sanitárias
    • subtrair circulações e paredes divisórias (9,5 cm de afastamento)
    • reajustar e dividir manchas funcionais de acordo com as exigências de adequação espacio-funcional (em intervalos de 0,5 cm)
    • verificar graficamente a espaciosidade com as exigências de mobiliário e equipamento
    • os compartimentos, com excepção da sala, não poderão extravasar a caixa
    • nas caixas justapostas, a localização das paredes limítrofes decorre das condicionantes mecânicas e infra-estruturais do sistema construtivo
  4. introdução de alpendres e espaços de arrumação

ETAPA 3.4 – PORMENORIZAÇÃO

Esta etapa consiste na materialização das etapas precedentes através da introdução de paredes, vão interiores (com 75 ou 65 cm de largura útil), mobiliário fixo, equipamento, chaminés, etc.

O sistema vai sendo mais aberto segundo a ordem de inserção enumerada acima.

Desta etapa decorre o suporte detalhado (SD) do projecto base da habitação.

Exemplo: modelo SUDOESTE

SP – suporte programático (etapa 3.3 – compartimentação)
SD – suporte detalhado (etapa 3.4 – pormenorização)

ESTÁDIO 4 – PROJECTO BASE DE EXECUÇÃO

No estádio 4 é consolidada a compatibilização do conteúdo espacio-funcional com a forma envolvente.

São inseridos os vãos exteriores e definidos os acabamentos. Numa abordagem experimental de aplicação do SP3M:

  • o mapa de vãos é limitado ao catálogo disponível no fornecedor do M3
  • e os acabamentos exteriores à variedade cromática dos fabricantes

Os princípios genéricos HASE e estéticos voltam a ser preponderantes nesta fase.

Na última etapa são detalhados os suportes gráficos e elaboradas as peças escritas necessárias para a conveniente definição e dimensionamento da habitação, incluindo memória descritiva, programa geral de trabalhos, mapa de quantidades e orçamento descriminado.

ESTÁDIO 4 – PLANTA DE COBERTURA E ALÇADOS

Versão base:

  • caixas com telhados de três e
    quatro águas

Variante morfológica:

  • caixas com telhados de uma
    água
  • translação da implantação

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As características de mobilidade, adaptabilidade, funcionalidade, aplicação de economias de escala mantendo princípios de identidade, etc., permitem ao sistema proposto acompanhar as rápidas e frequentes mutações da sociedade actual na produção de habitação.

Por outro lado este procura responder à ânsia crescente de simplicidade, regresso e contacto com a natureza, assim como de sustentabilidade ambiental e eficiência energética.

A sistematização das exigências e integração de um sistema construtivo com o sistema de projecto personalizado permitem à oferta corresponder às expectativas da procura e de regulação do estado.

CONCLUSÃO

O sistema proposto reflecte os dias de hoje, nomeadamente, a necessidade de celeridade, mobilidade, funcionalidade e de economias de escala, por um lado, e a valorização dos aspectos ambientais, do contacto com a natureza e das preocupações de ordem ecológica, eficiência energética e qualidade de vida, por outro.

As principais dificuldades sentidas prenderam-se com as restrições inerentes ao sistema construtivo adoptado que condicionou o campo de aplicação do sistema de projecto desenvolvido, embora tais restrições tivessem paradoxalmente permitido restringir o universo de soluções e, consequentemente, criar o sistema de projecto. Contudo, este é suficientemente simples e flexível para que possa ser adaptado a outro sistema construtivo de pré-fabricação leve e a um campo de aplicação morfológico e programático mais vasto.

DESENVOLVIMENTO FUTURO

Pretende-se futuramente criar uma gramática discursiva baseada na elaboração de mais soluções e consequente ampliação do sistema de regras visando a automatização pela integração de um sistema informático.

Este permitirá optimizar a execução dos modelos, na interacção com os utentes e articulação com a fábrica, possibilitando posteriormente o alargamento do campo de aplicação.

A produção de habitações permitirá uma avaliação pós-ocupacional consistente, a homologação e reconhecimento do sistema projectual e dispensando processos disfuncionais e morosos de licenciamento.

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